Há uma diferença enorme entre estes dois verbos amar e gostar, mas frequentemente são usados como sinônimos.
Gostar é um sentimento que brota espontaneamente na pessoa. Gostamos de pessoas que achamos simpáticas, ou que nos beneficiam, mas deixamos de gostar daquelas que nos são antipáticas, ou que nos fazem mal. A liberdade de escolha de gostar, ou não de alguém é nula pois não podemos optar pelo que sentimos. Nossa área de liberdade não se encontra no que naturalmente sentimos, mas está no que podemos fazer com tal sentimento.
O gostar geralmente está associado ao prazer. Gostamos das pessoas que interpretamos como boas para nós, o quanto podem nos fazer felizes, e quanto suas presenças nos fazem bem e, deixamos de gostar quando as pessoas não nos são simpáticas, quando nos maltratam e quando não são o que esperamos das mesmas.
Quando os relacionamentos entre pessoas fixam-se exclusivamente no gostar, sem evoluir para o amar, surgem frequentemente hostilidades, muitas brigas, ciúmes, controle, egocentrismo e traições. O alcance de realização afetiva aqui é fugaz, “eterno enquanto dura”, egoísta, visando exclusivamente a satisfação individual. A atração pelo outro é por um traço de beleza ou de personalidade, não pelo ser total deste.
O amor é uma moção espiritual, não no sentido teológico, mas no que Viktor Frankl, autor da Logoterapia, chama de dimensão ontológica do ser humano. Esta dimensão é exclusiva do mesmo. O que diferencia o ser humano dos outros animais é a sua dimensão espirtual, sendo que estes possuem somente as dimensões biológica, psíquica e social.
O amor pode se originar no sentimento de gostar, mas, sendo moção espiritual, trata-se uma escolha. Ama-se sem se preocupar com ganhos que possam ser obtidos no relacionamento. Ama-se o outro, não para ser feliz, mas para fazê-lo feliz. Amor é sempre maior que o ego e nesta transcendência é capaz de justificar e perdoar os erros do outro.
São Paulo define claramente o amor, em I Cor 13,2.4-8, chamando-o de caridade:- “...se não tiver caridade, não sou nada.” 4-7 “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará.”
O amor capacita e fortalece o ser que ama, favorecendo:
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Formar unidade.
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Reconhecer o caráter único e irrepetível do outro.
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Percepção especial do ser amado: o vê além dos defeitos.
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Amizade, empatia, sintonia, intimidade, responsabilidade pelo encontro assumido, fidelidade independente de leis, mas dependente da própria consciência.
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Abertura para formar comunidade. Um filho gerado no amor, é verdadeiramente assumido e reconhecido como fruto do mesmo.
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Aceitação do diferente – não compactua com preconceitos
Somos livres para amar, ou não. Podemos escolher com muita facilidade amar a pessoa que gostamos, mas podemos optar, apesar das imperfeições e das feridas causadas pelo outro, a amá-lo. Não que isto seja fácil, mas podemos escolher, a despeito da dificuldade, tomar a decisão do amor e do perdão. Podemos amar a quem não gostamos. Que maravilha ficar livre da mágoa – “má água”, que nos envenena enquanto não a liberamos, através do perdão!
Quando se ama, se fala em transcendência do eu, de algo que é eterno e até mesmo mais forte do que a morte, como nos ensina o Livro Sagrado, em Cântico dos cânticos 8, 6a. Ao perder alguém, que foi embora, ou que morreu, o amor continua existindo e jamais será aniquilado pela ausência do ser amado. Amar é a mais nobre escolha que o ser humano é capaz de fazer e desta forma conseguir viver a plenitude de seu ser.
Sintetizando tudo, termino com as sábias palavras de Madre Tereza de Calcutá: